segunda-feira, 26 de maio de 2008

Mordedores de grana do BNDES

Num telefonema grampeado pela PF, um dos acusados de participar do esquema de desvio de verbas do BNDES disse para outro:

- O cara é ligado ao José Dirceu e vai querer morder uma grana.

Ele se referia a um funcionário do BNDES. Qual deles? De acordo com o blogueiro César Maia, só pode se tratar de Élvio Gaspar. Recebi a mesma dica na semana passada. Fui furado por César Maia. Mas acrescento um dado: Élvio Gaspar está sendo investigado pela PF.

Primeiro: ele é ligado a José Dirceu. Mais precisamente, ele é ligado à turminha carioca de José Dirceu - gente como Waldomiro Diniz e Marcelo Sereno. Foi secretário de Planejamento do Rio de Janeiro, no governo de Benedita da Silva. No primeiro mandato de Lula, ganhou um cargo de comando no ministério do Planejamento. Depois disso, foi transferido para o BNDES.

O esquema de desvio de verbas do BNDES, segundo a PF, envolvia um financiamento de 120 milhões de reais à prefeitura de Praia Grande. Quem assinou esse financiamento foi o próprio Élvio Gaspar. Ao assiná-lo, ele elogiou a capacidade da prefeitura de "superar as dificuldades burocráticas". Agora se sabe que, para a PF, essas dificuldades burocráticas só foram superadas porque os caras - sabe-se lá que caras - "morderam uma grana".

Um empréstimo de 200 milhões de reais às Lojas Marisa também consta do inquérito da PF. O negócio foi analisado e aprovado pela área de Crédito do BNDES. Quer saber quem é o diretor dessa área? Sim: Élvio Gaspar.

Isso é apenas uma das pontas do caso. Há outras pontas, igualmente degradantes: a suspeita contra parlamentares, como Paulinho; a falta de controle sobre o dinheiro do PAC, que financiou as obras de Praia Grande; o esquema de aparelhamento petista, que espalhou seus mordedores de grana pela máquina estatal.

Minha pergunta é a seguinte: por que até agora ninguém pensou em pedir uma CPI do BNDES? O banco é a principal fonte de investimentos públicos do país. Está envolvido diretamente nos maiores negócios da atualidade, como o empréstimo bilionário à Vale e a compra da Brasil Telecom por parte da Oi. O Congresso Nacional tem o dever de conferir se esse dinheiro está sendo empregado honestamente. O BNDES diz que possui um sistema de checagem de seus investimentos. O fato é que, em Praia Grande, esse sistema falhou, e tudo indica que pode ter falhado outras vezes.

No ano passado, fiz um artigo sobre o presidente do BNDES, Luciano Coutinho. Apelidei-o de Mulá Omar brasileiro, porque ele contribuiu de maneira determinante para o atraso do país, instituindo, em meados da década de 1980, a reserva de mercado para a informática. Uma CPI do BNDES pode ajudar a impedir que o banco se torne uma reserva de mercado dos mordedores de grana.

Diogo Mainardi (06/05/2008)

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